ATA DA DÉCIMA NONA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 18-5-2000.

 


Aos dezoito dias do mês de maio do ano dois mil reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte e dois minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o Dia de Solidariedade ao Estado de Israel, nos termos do Requerimento nº 099/00 (Processo nº 1563/00), de autoria da Mesa Diretora, por solicitação do Vereador Isaac Ainhorn. Compuseram a Mesa: o Vereador Paulo Brum, Presidente em exercício da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor João Motta, Prefeito Municipal de Porto Alegre, em exercício; o Senhor Mário Anspach, Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul; o Senhor Ran Yaakoby, Cônsul de Israel em São Paulo; o Senhor Samuel Burd, Presidente do Conselho Geral de Entidades; o Senhor Bóris Wainstein, Vice-Presidente do Conselho Geral de Entidades; o Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; o Senhor Israel Lapchik, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; o Rabino Mendel Liberow; o Vereador Isaac Ainhorn, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino de Israel, pela Fanfarra do Comando Militar do Sul, sob a regência do Mestre de Música Sílvio Luís Machado, e do Hino Nacional Brasileiro, sob a regência do Tenente Ezequiel Português de Souza. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome das Bancadas do PDT, PTB, PMDB, PSB e PPS, discorreu sobre a criação, no ano de mil novecentos e quarenta e oito, do Estado de Israel, e sobre a instituição, no ano de mil novecentos e noventa e um, do Dia de Solidariedade ao Estado de Israel, comentando o desenvolvimento econômico e evolução histórica apresentados por esse País ao longo de sua história. O Vereador João Dib, em nome da Bancada do PPB, teceu considerações sobre a luta empreendida pelo povo judeu pela criação de um Estado próprio, salientando a importância da adoção de medidas que viabilizem a manutenção da paz no Estado de Israel. Também, saudou, em nome do Senhor Guilherme Socias Villela, a comunidade judaica presente a esta solenidade. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, referiu-se a aspectos atinentes à vida e à evolução do povo judeu, destacando a importância política e histórica da criação do Estado de Israel e afirmando que as perseguições sofridas por esse povo devem servir como um alerta às futuras gerações, para que novas práticas autoritárias e intolerantes sejam evitadas. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, externou sua satisfação em participar da presente homenagem ao Dia de Solidariedade ao Estado de Israel, discorrendo sobre a presença da comunidade judaica na Cidade de Porto Alegre e comentando dados relativos à criação, no ano de mil novecentos e quarenta e oito, do Estado de Israel. O Vereador Gerson Almeida, em nome da Bancada do PT, enalteceu a luta empreendida pelos judeus com vistas à criação de um Estado independente, lembrando o sofrimento e as perseguições sofridas por esse povo ao longo de sua história e salientando a posição de destaque ocupada pelo Estado de Israel na questão da proteção ao meio ambiente. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Ran Yaakoby, que destacou a importância do registro hoje feito por este Legislativo, com referência ao Dia de Solidariedade ao Estado de Israel. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem o Hino Rio-Grandense, executado pela Fanfarra do Comando Militar do Sul, agradeceu a presença de todos e, às dezoito horas e vinte e seis minutos, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convidando a todos para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Paulo Brum e secretariados pelo Vereador Isaac Ainhorn, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Dia de Solidariedade ao Estado de Israel.

Convidamos para compor a Mesa: o Ver. João Motta, Prefeito em exercício de Porto Alegre; o Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, Sr. Mário Anspach; o Cônsul do Estado de Israel em São Paulo, Sr. Ran Yaakoby; o Presidente do Conselho-Geral de Entidades, Dr. Samuel Burd; o Vice-Presidente do Conselho-Geral de Entidades, Prof. Bóris Weinstein; o representante do Comando Militar do Sul, Cel. Irani Siqueira; o Presidente do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre, Sr. Israel Lapchik.

Também convidamos para fazer parte da Mesa o Rabino Mendel Liberow.

Ouviremos o Hino de Israel que será executado pela Fanfarra do Comando Militar do Sul sob a regência do Mestre de Música Sílvio Luís Machado, e, logo após, ouviremos o Hino Nacional Brasileiro sob a regência do Tenente Ezequiel Português de Souza.

 

(O Hino de Israel e o Hino Nacional são executados.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Ver. Isaac Ainhorn, proponente desta homenagem, falará em nome das Bancadas do PDT, PTB, PMDB, PSB e do PPS.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Esta Casa, no curso dos anos, desde a criação do Estado de Israel, em 1948, ela, anualmente, celebra uma Sessão Solene em homenagem ao Estado de Israel. De outra parte, num outro momento difícil da curta trajetória de existência do Estado de Israel, esta Casa resolveu marcar de forma mais presente esta solenidade e criou, no ano de 1991, o Dia de Solidariedade ao Estado de Israel, anualmente comemorado por esta Casa e pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, que se integra às comemorações.

A primeira questão que nos surge é exatamente por que esta Casa, a exemplo de outros parlamentos em nosso País, municipais, estaduais, na Câmara Federal, e não só no Brasil, mas em outros países, tem marcado e assinalado o registro de cada ano da existência do Estado de Israel. Que razões levam a esta singular situação? Com dezenas, centenas de países, nós não teríamos dias suficientes para homenagear as datas de independência e as datas solenes dos diversos povos. Mas, inegavelmente, há razões e há uma razão especial, que, desde a criação do Estado de Israel, no ano anterior, em novembro de 1947, desde a célebre Assembléia Geral das Nações Unidas, que autorizou a criação de um Estado Judeu e de um Estado Palestino naquela região, desde o dia em que o povo de Israel, o povo judeu, reunido pelos seus representantes, naquele momento histórico em que Ben Gurion declarou a existência do Estado de Israel, no dia seguinte - esses cinqüenta e dois anos na existência das pessoas são muitos anos, Sr. Cônsul; na existência de um povo é quase nada, mas cada dia, cada hora, cada ano, do Estado de Israel é um ano sempre de preocupações e de apreensões - ao da Independência do Estado de Israel ele já se viu acossado por invasões armadas de todos os seus vizinhos, declarações de organizações que pregavam simplesmente a destruição do Estado de Israel. Elas eram presentes até alguns anos atrás. Felizmente, esse espectro já foi arredado. No entanto, não há dia, não há momento, não há mês, não há ano em que o povo judeu e o Estado de Israel não se veja frente aos mais sérios e graves problemas de segurança dos seus cidadãos dentro das suas fronteiras territoriais. Há poucos momentos, eu lia uma manchete de um jornal de Israel dirigido ao Jornal Aurora; ele referia que desde 1947 na luta pela defesa nacional morreram, até os dias de hoje, dezenove mil, cento e nove soldados israelenses. Não foi em uma batalha, não foram em duas batalhas; foi no curso dos seus cinqüenta e dois anos. Não há dia em que o mundo e nós, não há semana em que nós, acompanhando os noticiários internacionais e do Estado de Israel, não vivamos sobre a apreensão da queda de mais um soldado israelense no cotidiano da vida daquele Estado.

É isso, Sr. Cônsul, com certeza, que faz o senhor chegar aqui em Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul e ver com tranqüilidade uma banda militar tocar com sensibilidade o Hino da Esperança, o Hino do Estado de Israel. É por isso, é por essa situação singular que nos faz, anualmente, prestarmos uma homenagem ao Estado de Israel. Marcamos as nossas datas com muito respeito, com muita devoção.

Há alguns dias, nesta mesma Casa, neste mesmo Plenário, participamos de uma outra Sessão com a presença do Comando Militar do Sul, dos representantes da Força Expedicionária Brasileira registrando o Dia da Vitória, dia 8 de maio de 1945. Algumas pessoas que aqui se encontram estavam presentes nesse dia, sobretudo os representantes da Sherit Apleitat, Sr. Monk Zamel, e outros representantes da Associação dos Sobreviventes de Guerra aqui se faziam presentes. Naquele momento, assinalávamos a importância da manifestação do Dia da Vitória, porque o Dia da Vitória, o final da II Guerra Mundial, a II Guerra Mundial foi extremamente dolorosa para o mundo inteiro, mas foi, sobretudo, mais dolorosa para o povo judeu, que teve seis milhões de pessoas mortas nos campos de concentração, não nos campos de batalha, nos campos de concentração e nas câmaras de gás. Jamais nos esqueceremos dessa tragédia que se abateu sobre o povo judeu, sobre o nosso povo. Por essa razão, não é só o Ver. Isaac Ainhorn, como judeu-brasileiro, que presta homenagem ao Estado de Israel, são todas as representações políticas desta Casa, dentro das suas mais variadas tendências e matizes e cores ideológicas, que reconhecem a importância desta Lei e desta solenidade.

Outra referência que julgo nessas reflexões, que anualmente fazemos aqui nesta Casa, apesar de todas essas dificuldades, Ver. Reginaldo Pujol, Ver. João Dib, Ver. Gerson Almeida, a despeito de todas essas situações, Israel, de uma economia fundamentalmente de estrutura agrária, hoje é dotado de uma das mais avançadas tecnologias; tem um dos parques industriais e tecnológicos com as suas pequenas fronteiras, dos mais avançados do mundo. Transformou desertos. É, verdadeiramente, um milagre do século XX, é a transformação dos desertos em verdes campos - como já estava escrito nas Sagradas Escrituras, na Bíblia Sagrada.

Mostrando alguma coisa ainda do Estado de Israel, gostaríamos, por derradeiro, falar do avanço da sua população. E, mais uma vez, me valho do Jornal Aurora, em que refere que a população de Israel, na véspera do seu 52º aniversário de independência, alcançou a presença de seis milhões e trezentos mil habitantes. Quase oito vezes mais que as que tinha em 14 de maio de 1948.

Um dado curioso, a população árabe, dentro desses seis milhões e trezentos mil, se constitui de um milhão e cem mil habitantes, que são respeitados nas suas matizes, nas suas convicções, nas suas tradições e nos seus perfis. Desses um milhão e cem, 81% são muçulmanos, 10% são cristãos e 9% de drusos.

Esta Casa também se orgulha de ter na sua história, de mais de dois séculos de existência, este Legislativo prestado, no ano de 1996, uma homenagem, na sala ao lado, quando estivermos no coquetel, S. Ex.ª poderá ver uma placa comemorativa aos três mil anos de Jerusalém, e uma homenagem a Jerusalém como centro espiritual de três religiões e Capital eterna do Estado de Israel, e na parte fronteira, desta Casa, também temos uma singular homenagem ao Estado de Israel, a uma figura que marcou e foi vítima da violência que foi Itzak Rabin. Na parte fronteira da nossa Câmara Municipal, nós temos um bosque que leva o nome de Itzak Rabin.

Por isso que nós, neste momento, fazemos aquilo que denominamos uma singular e permanente homenagem desta Casa ao Estado de Israel por ocasião do seu 52º aniversário. Com certeza, nós estaremos aqui, no ano que vem, comemorando o 53º aniversário, e assim por diante, com uma expectativa, com uma esperança como assinala o Hino do Estado de Israel, o Hatikva, com a esperança de que possamos, definitivamente, arredar a violência, a guerra e construir uma paz permanente e duradoura de Israel com os Estados vizinhos. Nós somos testemunhas de que Israel tem envidado os maiores esforços no sentido da consolidação plena da paz naquela região. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Ver. João Dib está com a palavra pelo PPB.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda componentes da Mesa e demais presentes da Mesa.) Caro Rabino Mendel Liberow, que há uma semana esteve neste Plenário, falando para as mães de todo o mundo, comemorando conosco o Dia das Mães, Srs. Vereadores, representantes da colônia judaica, eu teria, neste momento, um sério compromisso com o ex-Prefeito Guilherme Socias Villela, que me pediu que eu transmitisse uma grande abraço à colônia judaica nesta data que é tão importante para Israel. Desincumbo-me desta missão.

Segundo uma poesia de Cecília Meirelles, uma citação de Waismann, se dizia que não se oferece um Estado a um povo numa bandeja de prata. Na realidade, Israel não foi oferecida ao povo judeu numa bandeja de prata, mas Israel soube fazer daquela terra uma bandeja maravilhosa, onde coisas maravilhosas acontecem, onde medicina, comunicação, informática, agricultura, turismo, tudo evolui. É fácil, portanto, falar de Israel, e falar bem.

O Ver. Isaac Ainhorn disse, ao final de seu pronunciamento, aquilo que eu digo sempre e gosto de dizer: saúde e paz. O Ver. Isaac Ainhorn falou da sua esperança, da sua certeza de paz. Eu que acredito e sempre digo, do fundo do meu coração, essa expressão, gostaria de ver árabes e judeus sentados; os árabes dizendo “Saka ua Salam”, os judeus dizendo "Briut e Shalom", da mesma forma que eu digo, do fundo do meu coração, a todos: saúde e paz! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra pelo PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Êxodo, diáspora, holocausto, esperança e paz. Expulsos, foram embora para sempre, perdendo o direito mais elementar: o sonho da volta. O homem armazena em si os caracteres de sua sociedade. A sociedade detém todos os caracteres de seus homens. Homem e sociedade, indivíduo e coletivo, constituem o macro e o microcosmo sistêmico. A diáspora faz com que cada indivíduo conserve em si os rudimentos necessários para a sobrevivência cultural, religiosa e política. Em geral, em cada refúgio são rejeitados, banidos, expulsos. É histórico e reconhecido o recurso da sobrevivência em mínimos espaços, seja no escravismo, seja no feudalismo, entre burgos, onde comerciam e prestam serviços. Essa é a mais eloqüente explicação do habitual distanciamento dos judeus da agricultura. Sem terras, longe dos campos, criaram e aperfeiçoaram formas de comércio, de relações financeiras, até que o processo histórico e religioso comportasse o lucro, o aparecimento dos primeiros bancos e uma economia metalista, como forma de troca, antagonizar o escambo e de carregar, individualmente, especialmente no fragor das guerras e das perseguições, pequenas fortunas portáteis, transportáveis até o primeiro lugar seguro, arrimo de si próprio e de seu pequeno séquito familiar.

É através do exame desta história que emerge a importância de um continuum cultural, deixado pelos caminhos, nas longas fugas, pedaços de seu povo e de si mesmos, cada judeu era o precioso continente de uma reserva de saber e de conhecimentos milenares, gradativamente evanescentes, mas conservando uma sólida reserva que venceria os séculos, os milênios, sem perder a ilusão da volta à terra prometida, ao Sião, à obstinação sionista. Passaram-se inúmeras gerações e a magia pela volta a algum lugar, qualquer lugar, lugar raiz, lugar de devolução, onde se juntassem os migrantes, os fragmentos da língua, da arte, do jeito de ser que já há mil anos fazia-se por merecer a terra da reunião. A terra como dimensão uterina de origem, de proteção, de lar, de ninho, de aconchego.

A ilusão da volta é a ilusão da volta. Milhares de vidas descartaram-se. Nesses dois milênios a idéia de pátria mudou a ponto de Edgar Morin em “Terra Pátria” afirmar que a pátria de cada um dos seis bilhões de terráqueos é o planetinha onde zanzamos. De um país para outro, de um continente para outro, os rejeitados outrora desgraçados vagamundos são hoje cidadãos desta roda-gigante em que habitamos. E Israel é hoje um emblema. Emblema da esperança, da pertinácia de um povo, da apaixonada luta de Theodor Herzl. Começa como “Eretz Israel” e evolui até a “Medinat Israel”.

A loucura da volta faz de Eliezer Ben-Iehudá um arrecadador de fragmentos da linguagem hebraica antiga e adapta-se a um idioma nacional, integrador, identificador e solidarizante. Com a permanente chegada de judeus da Europa Ocidental e Oriental, erguia-se, ao mesmo tempo um complexo econômico, administrativo, social e cultural judaico de volta a terra. Sempre hostilizados, inconformados com a volta da Palestina aos seus verdadeiros donos, a seguir, assistimos o holocausto dos anos 40, da insana guerra nazista, uma parte dela. A Israel de hoje é destinada a um povo que soube avançar socialmente, desde a central sindicalista (Histadrut) até os kibutzim e moshavim, socializantes e autodirigidos. Foi a aranha de Oswaldo e sua teia protetora.

Desde Ben Gurion, Levi Eshkol, Golda Meir, Moshe Dayan, transformaram o deserto através de irrigação planejada, fertilizadora das terras antes devolutas, hoje, com excelentes índices de produção.

Foi o milagre da volta. Lá está, à beira do Mediterrâneo, um povo, uma língua, um hino, uma bandeira, milhares de experiências, animosidades permanentes e a continuação de uma saga fantástica, interminável, que às vezes deprime, mas muitas vezes fascina.

Quando se ensaia, em qualquer ponto das Europa ou do mundo, a volta do nazi-fascismo ou manifestações anti-semitas, responde-se, invariavelmente: se há um povo, se há uma etnia que adquiriu direitos, por todos os motivos da vida, do modo de produção, da criatividade, este é, sem dúvida, o povo judeu, antes de tudo admirado por sua luta. Mas respeitado por suas características: a imensa capacidade de trabalho, o talento invulgar e seus artistas.

Ah, os artistas de O violinista no Telhado. Ah, os artistas - quase sempre discriminados - em A Governanta e tantas obras de arte com as quais convivemos diariamente.

Aqui no MARGS, tem o Marc Chagall; a Sinfônica de Porto Alegre já interpretou a Quarta Sinfonia de Gustav Mähler, o Russinho (Russowski) foi meia direita do Inter e a simpática inspiração de Isaac Ainhorn, faz desta Sessão emocionante um preito à vida, à dignidade, à maior glória da espécie hominis, a cada momento em que busca a paz.

Pátria, no dizer de Morin, é substantivo feminino e quer dizer pai, masculino. É a junção do casal judeu em Israel, matriz de uma história de cada judeu que conquistou o direito ao sonho, ao magnífico sonho da volta. Depois de milênios, a volta à Terra Prometida. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra em nome da Bancada do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu quero lisamente confessar, aos senhores e senhoras aqui presentes, que discuti com o Ver. Isaac Ainhorn, proponente desta homenagem, desta Sessão Solene em homenagem ao Dia de Solidariedade ao Estado de Israel, da conveniência da nossa manifestação nesta oportunidade, de vez que nós perguntávamos, até mesmo com a autoridade de quem pela primeira vez, lá na década de 70, inspirado por alguns amigos de origem judaica, promoveu uma homenagem ao Estado de Israel neste Legislativo, se seria lícito que nós nos viéssemos somar a ele, quando ele, integrante que é, da comunidade judaica, com certeza, teria amplas condições de, com o brilho que o caracteriza, comprovado na tarde de hoje, promover esta homenagem.

Fui, de certa forma, constrangido pelo Ver. Isaac Ainhorn que me lembrou as minhas vinculações, algumas das quais me são dolorosas pela perda, com pessoas da sua comunidade, para dizer que não era lícito que nós nos omitíssemos nesta hora.

Então, eu quero, de coração, dizer a todos que a solidariedade ao Estado de Israel tem de ser a solidariedade ao povo judeu, a um povo sofrido, marcado, que buscou com afinco a formação do seu lar nacional, e o viu realizado em 1948; que tem pugnado por sua confirmação; que tem, de forma obstinada, feito com que o sonho de gerações e gerações se confirme e se consagre no dia-a-dia, e que sabe que as conquistas obtidas, se não forem zelosamente resguardadas, poderão virar outra página da história.

Por isso venho como único integrante do Partido da Frente Liberal, seu representante na Casa, associar-me às homenagens que aqui se realizam e, ao fazê-lo, enalteço não só a expressão da liderança da comunidade judaica em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul e no Brasil, como ressalto, e o faço por um dever de justiça, a importância da comunidade judaica na formação da Cidade de Porto Alegre. Espraiando-se desde o nosso querido Bom Fim por toda a Cidade, fazendo o progresso, fazendo cultura, fazendo história. E na nossa solidariedade ao Estado de Israel, sejamos, sobretudo, solidários aos nossos irmãos judeus que moram nessa mui leal e valorosa Cidade de Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Ver. Gerson Almeida está com a palavra e fala pela Bancada do PT.

 

O SR. GERSON ALMEIDA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Acho que sempre é muito oportuno que, a todo ano, esta Sessão seja realizada, esta que é uma iniciativa do Ver. Isaac Ainhorn, porque o Dia de Solidariedade ao Estado de Israel naturalmente nos traz, pelo menos, duas questões à mente.

A primeira é a própria luta pela construção de um Estado. Não há nenhuma outra história recente semelhante a luta pela constituição do Estado de Israel, que pode demonstrar o quanto essa construção da modernidade é importante como ponto de agregação política, intelectual, cultural e comunitária. Portanto, essa luta deve ser lembrada, rememorada e assegurada para que cada povo tenha a sua nação, o seu Estado. Esse, portanto, é um compromisso que todos nós devemos ter.

Em segundo lugar, a luta pela paz, porque ela é uma construção e um esforço permanente, ela nunca está construída completamente. E nós que já comemoramos décadas da modernidade, é importante como ponto de agregação política, intelectual, cultural e comunitária. Portanto, essa luta deve ser rememorada. É necessário assegurar que cada povo, que cada nação tenha o seu Estado. Esse é um compromisso que todos nós devemos ter.

Nós temos a luta pela paz, que é uma construção e um esforço permanente, porque ela nunca está construída completamente. Nós que já comemoramos décadas do holocausto, lamentavelmente, vemos que se não mantivermos acesa a luta e a indignação com aquele período, com aquele momento e com as idéias que permitiram que pessoas iguais a nós produzissem um ódio sem fim contra homens e mulheres, se nós não comemorarmos e rememorarmos, permanentemente, isso, poderemos estar cometendo o equívoco da omissão, permitindo que no solo vingue, novamente, a semente do ódio e da inumanidade. Isso não é estranho, não é uma questão abstrata, porque em vários países hoje, o processo forte de exclusão social, o processo forte de ampliação das desigualdades são elementos que têm criado condições para o ressurgimento de grupos minoritários, de grupos bastante rejeitados, socialmente, é verdade, mas que hoje ousam, novamente, começar a, não somente usar as vestes, os símbolos, mas proferir as mesmas idéias que levaram a humanidade a um de seus piores momentos.

Portanto, este momento, por mais sublime e modesto que seja, é um momento de reafirmarmos os nossos compromissos com a paz, com o Estado de Israel e com o mundo, onde, ninguém, por raça, cor, credo, ideologia ou por qualquer motivo, seja discriminado, perseguido ou confinado.

Pelo trabalho e pelas responsabilidades que desempenhei, quando fui Secretário do Meio Ambiente em Porto Alegre, lembro que Israel se tem constituído, ao longo desses anos, como uma referência também internacional, na execução, na produção de saber e de medidas administrativas no que se refere à questão do meio ambiente. Todos nós sabemos das dificuldades fantásticas que aquela região, em particular, oferece para o bom desenvolvimento de uma qualidade de vida. O abastecimento d’água, para pegar apenas um exemplo, e a criatividade com que o Estado de Israel, com que os técnicos, os trabalhadores produziram saber até então não conhecido e que, hoje, é exportado para vários lugares do mundo no reaproveitamento de água, no reflorestamento e em tantas outras áreas, no tratamento de esgotos sanitários. Sou conhecedor de um projeto que visa, em poucos anos, praticamente eliminar a zero a emissão de resíduos orgânicos oriundos de esgotos nos rios, córregos, lagos, enfim, uma tecnologia que tem sido usada como referência para todos aqueles que se preocupam com a administração do meio ambiente na sua cidade.

Portanto, esse é mais um registro, mais um valor que deve ser agregado na importância que o Estado de Israel tem tido em várias questões e também na questão do desenvolvimento tecnológico que, hoje, a partir de parcerias com várias cidades e Estados brasileiros, tem possibilitado um intercâmbio de conhecimento e saber, que muito tem ajudado não só Porto Alegre, não só o Brasil, mas vários lugares do mundo.

E, aqui, na Cidade de Porto Alegre, nós temos homenageado os cidadãos e os concidadãos que têm criado em Porto Alegre laços afetivos, laços comunitários, laços sociais, laços econômicos. E nós nos orgulhamos de poder, na Câmara de Vereadores, partilhar este momento e aproveitar, em nome das várias Bancadas, em nome da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, agradecer e deixar claro o reconhecimento da Cidade, a importância que a comunidade judaica tem tido no desenvolvimento desta Cidade que todos nós gostamos e que queremos construir cada vez melhor como o lugar onde todos possam viver com qualidade de vida, digna, livre e adequadamente. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Nós ouviremos, agora, a palavra do Cônsul de Israel em São Paulo, Sr. Ran Yaakoby.

 

O SR. RAN YAAKOBY: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Ex.mos Vereadores representantes de todas as partes desta Casa maravilhosa, que prestam homenagem, hoje, para o Estado de Israel, com muito respeito e muita dignidade, e não esquecendo o Ver. Isaac Ainhorn que fez a solicitação desta Sessão Solene de hoje.

Senhores e Senhoras, 29 de novembro de 1947, com as pesadas sombras do holocausto ainda muito próximas, centenas de milhares de judeus em todo o mundo, os ouvidos colados no rádio escutavam atentamente a transmissão da votação da resolução 147 na Assembléia Geral das Nações Unidas. Poderia um sonho de dois mil anos, a prece sempre presente nos lábios de tantas gerações, tornar-se realidade? Em 14 de maio de 1948, o proeminente líder sionista David Ben-Gurion proclamou o estabelecimento do Estado de Israel, na antiga pátria judaica para que o estabelecimento do Estado judeu se tornasse realidade. No entanto, foi fundamental a participação do gaúcho Oswaldo Aranha, personalidade que não podemos esquecer, também devido a sua contribuição como o grande sanitarista, que hoje empresta seu nome ao núcleo de ex-bolsista do Governo de Israel, aqui no Rio Grande do Sul, que participa de cursos do Mashav, o Departamento de Intercâmbio Internacional do Ministério das Relações Exteriores de Israel. O núcleo Oswaldo Aranha foi fundado no ano passado, juntamente com o Dep. Giovane Cherini, também ex-bolsista de Mashav, e presta uma dupla homenagem a Oswaldo Aranha, reconhecendo seu valor como homem de ciência e grande responsável pela proclamação de Israel como Estado independente. Ciência e liberdade sempre exigiram muito tempo e dedicação de Israel e seu povo. Desde sua criação, passando por lutas, derrotas, perdas e vitórias, Israel busca, continuamente, a excelência em tecnologia e pesquisa científica, procurando um rico intercâmbio de conhecimentos com o mundo, como através dos cursos dos programas de intercâmbio, e tornando-se um exemplo de sucesso, mesmo ainda tão jovem.

Israel é um país jovem e velho ao mesmo tempo. Nele nasceu o povo judeu há mais de quatro mil anos. Assim se expressa a Declaração do Estabelecimento do Estado de Israel: (Lê.) “Aqui tomou forma a identidade espiritual, religiosa e política do povo judeu. Foi aqui que, pela primeira vez, os judeus se constituíram em Estado, criaram valores culturais de significação nacional e universal, e deram ao mundo o eterno Livro dos Livros”.

Apesar de estarem durante dois milênios no exílio, os judeus sempre mantiveram uma presença em sua terra, jamais esquecendo ou desatando os laços que os ligavam a ela, e lutando até, finalmente, conquistar seu espaço como Estado independente. Hoje, como nos tempos antigos, Israel é um país onde, geográfica e culturalmente, o oriente se encontra com o ocidente e o passado toca o presente, criando um país vibrante e dinâmico. A “reunião dos exilados”, que trouxe a Israel judeus dos quatro cantos do mundo, se evidencia no mosaico de sua população - seis milhões de pessoas de uma miríade de origens étnicas, religiosas, culturais e sociais. Israel é, na verdade, uma sociedade nova, ainda em evolução, cujas raízes se aprofundam no passado, criando uma produção cultural intensa e bastante rica.

Apesar de ter uma preocupação constante com a segurança de todos os seus cidadãos, Israel sempre investiu em cultura e tecnologia, fatores responsáveis por um crescimento impressionantemente rápido e mundialmente conhecido.

A história de Israel foi marcada pela guerra e pela incessante busca da paz. Testemunhando ondas de migração, de mais de setenta diferentes países, sem prejudicar a integração social e a diversificação religiosa; o progresso científico e tecnológico, a individuação cultural, o crescimento e o desenvolvimento econômico, a modernização industrial, o renascimento de seu idioma, os vários objetivos e desafios de uma democracia moderna, a única no Oriente Médio.

À margem de um novo milênio, Israel saúda e recebe, de braços abertos, todos os seus amigos que desejam sentir de perto as mudanças de sua sociedade em constante ebulição, e parabeniza o Brasil e a comunidade do Rio Grande do Sul e sua Capital, Porto Alegre, sempre com grande presença judaica, por seus 500 anos. Quinhentos anos de múltiplas faces de uma rica mistura de origens e crenças.

Nesse ponto, podemos comparar os nossos dois países, Sr. Presidente, pelo fato de serem povos muito culturais, guardam consigo a força transformadora, que acredito ser necessária para a sobrevivência de qualquer povo e nação.

Feliz aniversário ao Brasil pelos seus 500 anos, e para o Estado de Israel. Agradeço novamente à Câmara Municipal de Porto Alegre pelo convite e pela honra que deu ao Estado de Israel, no seu aniversário. Muito obrigado e shalom.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense que será executado pela Fanfarra do Comando Militar do Sul.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agrademos a todos que aqui estiveram presentes. Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h26min.)

 

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